domingo, 5 de dezembro de 2010

Pulsão

                                                                                        
A poesia
pulsa
no pulso
da retina.

Ângulo ereto




Do ângulo em que me encontro, vejo o teu universo.
Ponho-me a olhar como uma espectadora anciosa
por fazer parte desta imagem, qual visão de quadro
em exposição, em que olhos ávidos investigam os detalhes.
Impressionista...
Visão abstrata tão bem definida, delineada, suave
impressão de criação e arte,
arte viva que  do ângulo em  que me encontro
vejo-te teso, lustroso, lânguido, firme e viril.


imagem: www.google.com.br/imagem

terça-feira, 30 de novembro de 2010

 


Folgo
para caber em ti.
Entrecorto-me
como paisagem emoldurada para caber no teu dia.
Alargo-me
como rio corrente para viajar no teu espaço.
Grito suspensa no abismo da tua alma, por um nome...
que não o teu.

Voo silencioso




Tuas mãos conduziam-me como a uma criança
E deixei-me levar...
Inebriada, embalada por tua canção de ninar
Breve, tão breve foi...
Um leve susurrar de segredos sem palavras.
Voei por entre nuvens, voo silencioso.
Sonhos desfeitos como suaves ventos cálidos.

A pena


É na mais distante visão que me aproximo de ti.
Nada tão fulgaz quanto o pensamento de te tocar.
Tão estranho como papel em branco
diante de mim, que reluta, mas nada diz.
Nada mais perdido, como o sonho do garimpeiro.
Nem mais possível quanto o mais impossível.
Mas é diante de te que me perco,
é na tua imagem criação e recriação que me afogo.
Só te encontro na noite cálida da pena que com pena me beija.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pesadelo

                                                             
Noite fria, gélida. Ouvi um barulho vindo da porta que dá para a rua, levantei-me. O vento soprava frio pelo telhado, sentia as minhas unhas roxas , meus pés anestesiados, quase me paralisavam e minhas mãos enrugadas e finas do frio, mesmo assim, caminhei em direção ao corredor que dava para a porta. Senti um arrepio forte nas costas e por um momento entrei em pânico. Os relâmpagos brigavam com espadas de fogo a cruzar os céus. De repente estava diante da porta. Briguei por um instante com uma dúvida, abrir ou não a porta? Resolvi encostar o ouvido e tentar ouvir algum barulho, senti que alguém me chamava pelo nome, mais uma vez aquele arrepio nas costas e o pânico me invadiu a alma. Pensei em voltar ao quarto, mas não, não conseguiria dormir. O que fazer, pensei. Foi então que olhei pela fechadura... Me congelei diante de uma cena aterradora. Uma outra de mim, me olhava! Meus músculos enrijeceram, meu grito sufocava-me, meus braços contorceram-se, minhas pernas em caimbras não saiam do lugar . Imobilizada. Ela então me cuspiu nos olhos, horrorizada gritei o mais alto que pude, desesperadamente. Fui socorrida por minha mãe, que mais uma vez me acordou de um pesadelo.
                                                                                             







terça-feira, 23 de novembro de 2010

Circunda-te de rosas...

Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa